1: A primeira coisa que fez foi entregar-me um balde de água com sabão e uma escova antiga. Talvez tivesse sido limpa e branca numa determinada altura da sua existência, mas agora era de um bege esquisito. O que é que era suposto eu fazer com isto? Disse-me que a minha primeira tarefa era limpar o chão. Com a escova de esfregar. Eles não tinham uma esfregona? Não foi para isto que me inscrevi. Eu queria vender cannoli, conversar com os clientes.
Olhei para o chão, o linóleo velho e descascado, coberto de uma mistura esquisita de açúcar, farinha, pedacinhos de amêndoas cortadas tingidas de verde lima e rosa choque. Perguntei-me se poderia sequer ficar limpo. Tinha 14 anos e este era o meu segundo emprego. O meu primeiro foi na sapataria do meu tio, quando tinha 13 anos – as leis do trabalho infantil parecem não se aplicar às empresas familiares – a corredora que ia às traseiras para encontrar aquele sapato azul perfeito num tamanho 9. Isso era fácil. Isto pareceu-me um downgrade.
Pus-me a trabalhar no chão, de mãos e joelhos, a esfregar, a pôr aquela graxa de cotovelo para me livrar daqueles torrões de açúcar. Cheiravam ao meu pai.
Não éramos próximos. Talvez por isso quisesse que eu trabalhasse na sua padaria. Para me conhecer um pouco melhor, para construir uma relação. Ele trabalhava muito. Quando eu era pequena, ele saía antes de eu acordar e voltava para casa pouco antes de eu ir para a cama. A minha memória de infância mais duradoura era aquele cheiro. Açúcar, nozes, farinha, tudo misturado. Eu sabia que ele estava em casa quando o cheiro chegava ao meu quarto, impregnado nas suas calças brancas de botão e nas calças de padeiro axadrezadas pretas e brancas.
Este chão nunca iria ficar limpo. O cheiro nunca mais ia sair. Perguntei-lhe se tinha mesmo de fazer isto. Sim. Não tive um tratamento especial por ser filha do dono. Recebi os benefícios acordados – 20 dólares por dia, um ovo gorduroso com queijo do restaurante do outro lado da rua e todo o queijo dinamarquês que conseguisse comer, um termo que ele aceitou antes de se aperceber da quantidade de queijo dinamarquês que eu conseguia comer. Em troca, eu fazia o trabalho que fosse preciso fazer. Voltei para o chão. Não houve tratamento especial.
Anos mais tarde, ele dizia-me porque é que me obrigava a fazer aquilo. Disse-me para nunca pensar que eu era melhor ou pior do que qualquer outra pessoa por causa de quem ela é ou do que faz. Na altura, não compreendi isso.